Um ex-atleta de futebol que superou problemas com as drogas após se converter e se tornou pastor dedica, semanalmente, um dia para pregar a Palavra de Deus aos jogadores do Corinthians, compartilhando seu testemunho e falando sobre a transformação que o Evangelho proporciona.
Vagner Lopes hoje é pastor, mas já foi jogador. Nas visitas que faz ao Centro de Treinamento Joaquim Grava, do Corinthians, ele se reúne com os atletas e, falando a linguagem do boleiro, compartilha a Palavra. Ele ganhou oportunidade de se tornar íntimo dos jogadores através do atacante Jô, também evangélico, e terminou conquistando admiração de todos.
O pastor acompanhou de perto a campanha que levou o clube ao título do Campeonato Brasileiro de 2017, e mesmo depois que Jô se transferiu para um clube chinês, Vagner Lopes continua visitando os atletas, de acordo com informações do portal Uol.
Fundador da igreja Comunidade Cristã Aprisco da Família, Vagner teve uma carreira no futebol e superou momentos de adversidades que muitos enfrentam, como o problema das drogas. Talentoso, chegou a passar pelo Real Madrid, da Espanha, em 1994, mas as drogas acabaram se tornando um grande obstáculo em sua vida.
“Meu pai faleceu eu tinha 3 anos, mas precisava comer, minha mãe saía e a gente ficava meio sozinho. Se a família não educa, o mundo educa e a educação do mundo é cruel. Com 11 anos de idade, eu tive esse contato com a droga. Não sei se herança genética porque o meu pai faleceu por uso de drogas. O Guarani me tirou do ambiente, mas o ambiente não saiu de mim. Fui dependente por dez anos e não conseguia superar, fui para casa de recuperação”, relatou.
Nascido em uma família humilde, cresceu em um bairro carente. Saiu de casa aos 12 anos de idade para atuar na base do Guarani e tentar a vida nos gramados, e quando se profissionalizou no time de Campinas, conseguiu espaço em outras equipes, como o Juventus, do bairro da Moóca, em São Paulo, e o Ituano, no interior do estado. Como todos os atletas, enfrentou obstáculos e teve contato desde cedo com os caminhos tortuosos que muitos jovens escolhem.
“Muitas oportunidades no futebol apareceram e elas foram embora porque eu não tinha competência mais. A gente trabalha com físico, vai ficando debilitado. Parece que está dentro daquela gaiola e que você é um hamster, só que você não enxerga”, acrescentou.
Quando chegou ao fundo do poço, Vagner ainda tentava se manter no futebol. Foi jogar na quinta divisão do futebol paulista, e com a ajuda de um amigo, jogando no Primavera de Indaiatuba, conheceu o Evangelho, se entregou a Jesus e hoje considera que sua recuperação foi um milagre.
“Eu estava com princípio de depressão, sem rumo, sem perspectiva. Olhava para mim e via qualidade, mas olhava para a situação e percebia que eu não conseguia ter sucesso. Esse amigo me apresentou esse propósito. Caiu a ficha: ‘Peraí. O que eu estou fazendo com a minha vida? Vou decidir, vou treinar, vou vencer isso daí’. Foram seis meses de luta contra abstinência, desfazendo alianças com amizades, caiu a consciência em mim. Comecei a me aplicar, treinar forte de novo. Foi um milagre. Isso trouxe a libertação. Faz 25 anos que não sei o que é droga”, testemunhou;
A passagem no Real Madrid foi curta por conta de uma lesão, e ele voltou para o Brasil, onde jogou no XV de Piracicaba, no Banfield, da Argentina e também passou pelo futebol dos Estados Unidos. A essa altura, o chamado ministerial falou mais alto, e ele foi se dedicar a aprender sobre a Palavra de Deus para seguir o sacerdócio.
As reuniões com os jogadores do Corinthians acontecem, geralmente, antes das partidas, enquanto os jogadores estão em concentração. Em 2017, 15 jogadores participavam dos encontros, incluindo Jô – que tem um testemunho de superação do alcoolismo -, Cássio, Fellipe Bastos, Giovanni Augusto, Guilherme Arana e Moisés. Já em 2018, com alguns destes atletas foram do clube, o grupo está se reorganizando sob a liderança do goleiro titular – que se converteu ao Evangelho e desceu às águas – e apoio de Fagner e Pedrinho.
Segundo o pastor, o objetivo dos encontros não é valorizar a religião ou fazer proselitismo denominacional: “Quem está ali, não está pregando a placa de igreja nenhuma. Está ali para falar do amor de Jesus. Senão é terrorismo, é o evangelismo do Bin Laden. ‘Vem para mim, senão vai para o inferno’. Por isso chegamos com a ideia de não levar nenhuma placa, não falar nada além do reino de Deus. Pode ir um padre, quem quiser, a questão aí é o fato de ter criado essa confiança, mas eles são abertos para quem quiser ou um sacerdote de outro segmento. Temos que quebrar esses paradigmas que só nos afastam”, explicou o pastor.
Vagner Lopes disse ainda que acredita que os cultos realizados no clube tenham contribuído para fortalecer a união do grupo ao longo do último ano, que terminou com a conquista do importante título: “Foi bem legal, que parte das conquistas que eles alcançaram dentro do campo eles tinham conquistado também fora de campo. Eles se tornaram muito amigos. É difícil isso na bola. Gente parceira, o cara que corre para você”, concluiu, com a experiência de quem já viveu no mesmo ambiente e enfrentou os mesmos desafios.