Fundadora, ao lado do marido, da igreja australiana Hillsong, hoje um fenômeno religioso global com cultos no Brasil, Bobbie Houston, 61, recebeu uma mensagem de Deus, há 35 anos, orientando-a a criar um grupo de orações só de mulheres.
O modelo dos encontros da Sisterhood (irmandade, em inglês) foi então formulado: o culto teria música e pregação, como as reuniões gerais da igreja, mas receberia as fiéis para serviços de salão de beleza, cabelo, maquiagem, esmalteria e massagem de graça.
É assim até hoje, inclusive na versão brasileira. Com a chegada da igreja em São Paulo, em outubro de 2016, as reuniões da Sisterhood passaram a ser organizadas no ano passado e já aconteceram cinco edições. A última delas foi na sexta-feira passada, dia 24 de agosto.
A ideia de Bobbie, autora de best-sellers falando do poder feminino, é estimular o “empoderamento” das mulheres.
A novidade é falar em empoderamento em um contexto religioso, já que a palavra normalmente é usada em discussões feministas e significa possibilitar que a mulher tenha o poder de decidir sobre a própria vida e o corpo -e muitas vezes têm a ver com deixar dogmas religiosos de lado para fazer o que quiser.
Na Hillsong ganha outro significado. “Falamos em empoderar no sentido de mostrar que Deus dá permissão para as mulheres serem tudo que Ele quer elas sejam”, afirma a pastora Lucy Mendez, 37 anos, argentina criada na Austrália e pastora-líder, ao lado do marido, Chris, das filiais em Buenos Aires e São Paulo.
Salão de beleza da fé
Meia hora antes de abrir a casa de shows em que são realizados os cultos, na Vila Olímpia, bairro da zona sul de São Paulo, dezenas de mulheres já esperavam na frente do lugar. A expectativa era não só pela reunião, mas também serviços oferecidos no início do encontro: no hall, estava montado uma espécie de salão de beleza.
De um lado, cadeiras, escovas e secadores para arrumar os cabelos das fiéis, que poderiam também ser maquiadas. No centro, mesas com manicures para fazer esmalteria. Em outro canto, massagem. A razão por trás disso, segundo Lucy, não se limita à aparência. “É uma maneira de fazê-las se sentirem confortáveis em nossa casa”, diz. “Acho que atrai muito porque, prestando esses serviços, as mulheres se sentem cuidadas”, afirma a médica Raíssa Almeida, 27 anos, frequentadora da Sisterhood.
Pregação feminina
Nos últimos 40 minutos do culto, Lucy, que viajou no mesmo dia a São Paulo para o encontro, começou sua pregação. Não fez citações específicas a mulheres – são cerca de 500 na plateia – nem diz o que uma tem ou não que fazer. O que reforça o tempo todo é a importância de cada uma encontrar seus pontos fortes e usá-los em suas vidas.
Na parte em que lê alguns dos pedidos de oração de fiéis, escritos em papéis no começo do rito e entregues à pastora, aparecem várias citações a relacionamentos. Um deles é para ter paz no casamento. Outro, para achar um parceiro. “Não tem nada impossível para Deus”, diz Lucy. Cura da depressão, do câncer e busca por emprego também aparecem na lista.
“A mensagem não muda”
A pastora Lucy, de brinco de argolas, calça jeans preta rasgada e botas com franjas, reforça o intuito de ser uma igreja atrativa para as novas gerações. Por isso, também, investir tanto em música – a primeira meia hora da reunião é praticamente um show, com banda e grupo de cantores.
“Mas a mensagem não muda, só os métodos”, diz Lucy. No livro “The Hillsong Movement Examined” (“O Movimento Hillsong Examinado, sem edição no Brasil), a pesquisadora Tanya Riches, da Universidade de Sidney, na Austrália, afirma que a Igreja segue valores tradicionais e apoia que mulheres estejam em seus papéis de esposas e mães, mesmo que sejam bem-sucedidas em suas carreiras. Inclusive dentro da Hillsong, onde as líderes do sexo feminino têm tanto poder quanto os homens. E as pastoras, como Bobbie e Lucy, são casadas.